domingo, 31 de maio de 2009

Notas agudas de uma noite grave - e indigesta

Na minha casa, festas locais e quaisquer outras movimentações sociais eram "cafonas", coisa de quem quer aparecer, "tenho pavor". O valor estava no núcleo, no indivíduo refugiado na própria casa e em algumas referências não aprofundadas, apenas estetizadas. Se os sentidos e significados experimentados pela comunidade eram invalidados, recorria-se à televisão e a outros meios típicos de quando a mídia era predominantemente massiva. Contudo, o discurso e a vida de lá eram evidentemente deslocados e ilegítimos, nem eu, nem tu, nem São Paulo, nem galerias. Era o interior rural com 29 mil habitantes e uma avenida principal. Foi preciso navegar: alguns livros, pueblos e uma certa maturidade para entender o papel dos coletivos, sejam eles cafonas, obrigatórios, idealizados ou uma tarde no aniversário da afilhada. A partir daí surgem os vínculos, as construções produtivas, tantos as abstratas, quanto as palpáveis. Meus filhos vão ter a porta de casa aberta para ver a procissão passar, ou para fugirem dela. Em alguma outra coisa vou errar, mas que não seja naquilo que hoje reconheço.

1 comentário:

Unknown disse...

Te imaginei parada na entrada da casa umas 6 da tarde vestindo uma camisa xadrez justinha e com um pano de prato enrolado nos braços cruzados. Enquanto tu observa teus filhos interagindo com a turba, tua mente lembra exatamente das palavras escritas nesse texto.


Por fim, conclui: "Eu sou uma boa mãe".