sábado, 19 de janeiro de 2008

Sem licença,

Peguei emprestado sem pedir. Do Alberto Caeiro:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios

E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.



E do Fernando Pessoa:


De toda a gente: dava até para conceber como uma retaliação histórica, a nossa vez de entrar sem pedir licença, bons selvagens e blablá. Mas não sou tão chata assim – ao menos quando sóbria. Nem pragmática. Fico com a graça e a complexidade de uma nova casa, cada vez mais velha e mais minha, mas sempre nova e dos outros. Como diria Caetano Veloso, “aprende depressa a chamar-te de realidade. Tarde demais para devolver.
Notas de rodapé:
-"toda a gente sabe disso", "quem está ao pé dele está só ao pé dele". Ignorando o contexto dos trechos em questão e analisando-os apenas em seu aspecto lingüístico, chama a atenção o facto de continuarem presentes na prosa do cotidiano dos portugueses, quase cem anos após os versos de Fernando Pessoa. "Fica ao pé da Alfama, Tiara". Imensas expressões e vocábulos perderam-se - muito mais do que imagina o senso comum- nos oceanos temporais e geográficos que separam cá e lá. Outros tantos se criarem sem o consentimentos desses e daqueles. Em terra brazilis, modifica-se mais, dá-se mais apelidos e gírias. Observar os usos de uns e de outros faz significar mais profundamente as palavras, suas origens e sutilezas. Bem giro.
-O clipe é meio comercial calça Lee anos, mas é meu amigo! Gosto. Goste!
-Um texto é ineficiente quanto maiores forem os seus rodapés. Zzzzzz.
Notas de um rodapé:
-Não há rodapés em blogues... Como faz?

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